A festa tinha tudo para ser um sucesso. Uma homenagem ao cearense Evaldo Gouveia, com ele mesmo entoando seus inumeráveis sucessos, que afinal embalaram a vida de gerações e gerações em todo o Brasil. Dito e feito: Mercado dos Pinhões lotado, dentro e fora, com grandes artistas para prestigiar o mestre, entre eles Fagner e Fausto Nilo, políticos, empresários. Mal dava para andar. Até que surge no palco, já quando Evaldo ia começar a cantar, a prefeita Luizianne Lins (PT). Jornalistas presentes se entreolham. O receio é que tal presença gerasse mal-estar e até vaias, situação que não tem sido incomum ultimamente. Mas no lugar de vaias, primeiro veio o silêncio. E Luizianne falou da transformação do Carnaval de Fortaleza, da força do pré-Carnaval, de como a cidade não tinha opções antes e praticamente expulsava quem queria ver um pouco de folia, um enorme desestímulo a todos os que, sem dinheiro, não podiam sair; falou do aumento dos investimentos e em como Fortaleza estava muito mais democrática, ao propiciar que cidadãos das mais diferentes classes sociais possam compartilhar uma diversão saudável como a que estamos vivenciando nos últimos anos. E Luizianne foi aplaudida. Não só uma vez, mas várias. Deixou o palco distribuindo abraços e beijos e o show seguiu lindo, com uma ótima performance de Evaldo Gouveia.
Ao ver os aplausos, tentei buscar na memórias coisas boas feitas pela Prefeitura nos últimos seis anos que pudessem justificá-las. E não foram poucas. Só da memória: o fortalecimento do pré-Carnaval e do próprio Carnaval, do Réveillon, que virou uma imensa festa popular (apesar dos custos elevados), a requalificação do Passeio Público, da Praça dos Leões, a criação da Vila das Artes, a inauguração do primeiro Cuca, com uma programação cultural antes inexistente numa área de periferia, reformas em postos de saúde e o estabelecimento do terceiro turno, a construção de escolas e creches – apesar de a qualidade ainda estar abaixo do desejado – e a doação de fardamento e material escolar aos alunos, a manutenção de uma tarifa de ônibus barata, a melhoria salarial de várias categorias, como os médicos do Instituto José Frota (IJF). Mas, por que a gestão de Luizianne é tida como ruim ou péssima por tanta gente? Por que tantas críticas?
Creio que há pelo menos duas explicações. E uma acontece em decorrência da outra. A primeira é possivelmente uma falta de eficácia na divulgação dos feitos da prefeita. Muita gente simplesmente não sabe que o Passeio Público voltou a ser da cidade, com uma programação cultural constante e acessível, por atuação da atual gestão. Ou mesmo que o pré-Carnaval se tornou o que é por incentivo da Prefeitura. Ao mesmo tempo, os problemas saltam aos olhos e ganham grande notoriedade, normalmente com respostas insuficientes e até erradas (a segunda explicação). Com isso, os buracos das vias públicas, a não-conclusão da reforma do estádio Presidente Vargas, a construção nunca terminada do Hospital da Mulher e do Jardim Japonês, a reforma sem fim da Praia de Iracema, a demora em executar os demais Cucas e as melhorias na Beira-Mar e em outras praias, como o Titanzinho e a Praia do Futuro, tudo isso se torna a cara da atual gestão, parecendo que tudo até aqui é fruto de incompetência, quando não é bem assim.
Lógico que, diante de tantas obras e projetos que não vão adiante, não há administração no mundo que ficaria livre de críticas e reclamações. Mas basta Luizianne falar e mostrar o que de fato fez para mudar essa má impressão, o que demonstra o quanto a cidade precisa ser informada sobre suas próprias melhorias. E é fundamental que isso aconteça não só para a imagem de Luizianne, como política, melhorar: é para não haver chance de perdermos essas conquistas numa próxima administração. Muita coisa precisa melhorar, mas o que já melhorou precisa ser reconhecido e mantido.
Kamila Fernandes
(Fonte: O POVO Online / Colunas / Política 19.03.2011)
(Fonte: O POVO Online / Colunas / Política 19.03.2011)
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